ARTIGO

Eczema em crianças

O eczema atópico, ou dermatite atópica, é uma doença inflamatória crônica e recorrente. Há dados que indicam incidência crescentes nos últimos anos, em diferentes populações. Há indícios de predisposição genética para seu desenvolvimento.

Por isso, é frequente que no histórico familiar existam relatos de outras patologias de base atópica, como asma, rinite alérgica e conjuntivite alérgica. Além da predisposição, a exposição da pele a determinadas substâncias é causadora mais frequente dos eczemas

Epidemiologia do eczema em crianças

O eczema é uma doença de distribuição universal que acomete 20% das crianças de todo o mundo, de acordo com Williams (1999).

A incidência na população mundial é crescente desde os anos 40 do século XX. Trepka (1996) mostrou que a maioria dos casos acontece em áreas urbanas de países industrializados. O eczema atópico pode ocorrer em qualquer idade, mas manifesta-se antes dos 5 anos de idade.

Os períodos de remissão e de exacerbação dos sintomas são, muitas vezes, sazonais.

dermatite perioral

Apresentação clínica do eczema em crianças

A base genética do eczema tem expressão variável influenciada por fatores ambientais.

Segundo Schultz (1993), há concordância para a presença de eczema ser de 0,8 em gêmeos monozigóticos e de 0,25 em dizigóticos.

Na apresentação clínica, observam-se lesões de eczema propriamente ditas além de outras manifestações. As lesões são variáveis e sua distribuição ocorre de acordo com a idade do paciente e com a evolução da doença.

Crianças com menos de 2 anos podem apresentar lesões em qualquer região da pele. A distribuição é mais recorrente nas áreas convexas da face, no couro cabeludo e em superfícies de extensão dos membros, como joelhos, punhos e mãos. Nas primeiras manifestações da doença, são comuns: eczema agudo, com eritema, pápulas ou vesículas, exsudação e crosta.

Após os 2 anos, as lesões distribuem-se principalmente nas superfícies de flexão dos membros (pregas antecubitais, escavados popliteus e punhos).

Também podem surgir na região cervical e dorso-lateral. As lesões são mais secas quando comparadas com aquelas que surgem antes dos 2 anos. São menos exsudativas, com a fase aguda do eczema sendo substituída por áreas de liquenificação.

Essas áreas são mais espessas, com seu reticulado muito acentuado, caracterizando a apresentação clínica de um eczema crônico.

Também podem estar presentes lesões de escoriação em todas as fases da doença, em decorrência de prurido. Este sintoma, inclusive, é dominante no quadro e pode ser suficientemente intenso para provocar irritabilidade ou impedir o sono do paciente.

Outra alteração comum é a xerose cutânea. Os pacientes podem apresentar, além dos sintomas principais, um quadro de ictiose, queratose pilar, com hiperqueratose folicular.

As complicações mais frequentes são infecções, em geral por Staphylococcus aureus, nas lesões de eczema. Em geral, suspeita-se de infecção quando as lesões estão muito exsudativas e cobertas por crosta amarelada.

Pode ser necessária, portanto, prescrição de antibioticoterapia.

Diagnóstico de eczema em crianças

O diagnóstico de eczema em crianças é clínico. Tem como base, principalmente, a localização das lesões e o relato de prurido. Dados complementares consolidam o diagnóstico: idade do paciente, tempo de ocorrência das lesões, histórico de saúde, histórico familiar de doenças atópicas.

Além disso, pode ser indicada biópsia cutânea para diagnóstico diferencial, em casos excepcionais.

Entre os exames laboratoriais, indica-se, para alguns casos, avaliação do nível de IgE. No entanto, o nível de imunoglobulina tem pouco interesse prático, porque não afirma (tampouco, exclui) o diagnóstico.

Já as provas epicutâneas de contato são úteis diante da suspeita de uma dermite de contato, em geral, sobrepostas ao eczema.

Exemplo disso, seria o agravamento do eczema com a aplicação de corticoide tópico, o que origina a suspeita de reação alérgica.

eczemas

Tratamento de eczema em crianças

O tratamento possui dois eixos principais: terapêutica medicamentosa durante as crises e cuidados preventivos nos períodos intercrise. Entre eles, indica-se manutenção da pele hidratada, com banhos rápidos em água tépica, prferencialmente, com aplicação de substância emoliente. A secagem da pele deve ser cuidadosa, sem esfregar. Após o banho, deve ser aplicada solução emoliente com maior teor de óleo possível ao indivíduo.

Outro aspecto fundamental da prevenção e do tratamento é a eliminação de fatores agravamentes do eczema, tais como produtos químicos como sabão ou tecidos como lã e fibras sintéticas. Usar, preferencialmente, composições de algodão em contato direto com a pele. Exposição ao calor excessivo e a ambientes muito secos também é contra-indicada.

No tratamento das crises, segundo Claro (2011) pode-se utilizar terapêutica tópica e sistêmica. A primeira consiste na prescrição de agentes locais a fim de combater o processo inflamatório. As duas principais opções são os corticóides e os inibidores de calcineurina.

De acordo com Hanifin (2004), os corticóides são o tratamento padrão para o eczema atópico. Devem ser aplicados uma vez ao dia, em forma de creme nas lesões agudas exsudativas e em pomada nas lesões liquenificadas. Hanifin (2004) indica que um corticoide pouco potente, como hidrocortisona a 1 ou 2,5%) é eficaz em eczemas moderados. Para casos mais graves, pode ser necessário um corticóide de média potência, como furuoato de mometasona ou aceponato de metilprednisolona.

Já Ashcroft (2005) referem que os inibidores de calcineurina, como pimecrolimus e tacrolimus, são eficazes no tratamento de eczemas em crianças e adultos. A diferença em relação aos corticóides tópicos é que não causam atrofia cutânea. Por isso, são utilizados na face, pescoço e pregas.

O pimecrolimus tem apresentação em creme e o tacrolimus em pomada, com as

concentrações 0,03% e 0,1%. A maior concentração é apenas indicada para adultos. Ambos podem ser aplicados duas vezes por dia. São frequentes relatos de ardor nas primeiras aplicações. O pimecrolimus tende a ser mais bem tolerado que o tacrolimus, mas também apresenta menor eficácia.

A medicação sistêmica consiste na utilização de anti-histamínicos no controle do prurido. Segundo Hanifin (2004), são indicados os anti-histamínicos sedativos, como hidroxizina e o dimentideno. O efeito sedativo torna-se importante para evitar interrupções do sono.

Referências

Ashcroft DM, Dimmock P, Garside R, Stein K,Williams HC. (2005). Efficacy and tolerability of topical pimecrolimus and tacrolimus in the treatment of atopic dermatitis: meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ, 5; 330 (7490): 516.

 

Claro C. (2011). Eczema atópico na criança e no adulto. Rev Port Clin Geral, 27:78-82.

 

Hanifin JM, Cooper KD, Ho VC, Kang S, Kreftchik BR, Margolis DJ, et al. (2004). Guidelines of care for atopic dermatitis, developed in accordance with the American Academy of Dermatology (AAD)/American Academy of Dermatology Association “Administrative Regulations for Evidence-Based Clinical Practice Guidelines”. J Am Acad Dermatol, 50(3): 391-404.

 

Schultz LF. (1993). Atopic dermatitis: a genetic-epidemiologic study in a population-based twin sample. J Am Acad Dermatol, 28(5 Pt 1):719-23.

 

Trepka MJ, Heinrich J, Wichmann HE. (1996). The epidemiology of atopic diseases in Germany: an east-west comparison. Rev Environ Health, 11(3):119-31.

 

Williams H, Robertson C, StewartA, Aït-Khaled N, Anabwani G, Anderson R, et al. (1999). Worldwide variations in the prevalence of symptoms of atopic eczema in the International Study of Asthma and Allergies in Childhood. J Allergy Clin Immunol, 103 (1 Pt 1): 125-38.

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Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM

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Dra. Juliana Toma

Médica Dermatologista - CRM-SP 156490 / RQE 65521 | Médica formada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Título de Especialista em Dermatologia. Especialização em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês. Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA. Ex-Conselheira do Conselho Regional de Medicina (CREMESP). Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia do CREMESP (2018-2023).

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