Maria Júlia, 45 anos, enfrentou um caso grave de Covid-19 no final de 2020, necessitando de internação em UTI. Após se recuperar da fase aguda da doença, um novo sintoma surgiu: uma queda de cabelo intensa e preocupante.
A história de Maria Júlia reflete uma queixa comum entre os sobreviventes da Covid-19. A queda de cabelo é um dos sintomas frequentes da chamada “Covid longa” ou “condição pós-Covid”, que pode persistir por semanas ou meses após a infecção inicial. Estudos indicam que cerca de 1/4 dos pacientes com Covid prolongada relatam esse problema.
Neste artigo, explicamos por que isso acontece, quais os tipos de queda associados ao vírus e, principalmente, quais são as opções de tratamento seguras e eficazes. Boa leitura!

A queda de cabelo pós-Covid: o que a ciência diz
Uma análise global com cerca de 48 mil pacientes identificou a queda de cabelo como um dos sintomas persistentes mais comuns, afetando aproximadamente 25% das pessoas com Covid prolongada. Ela figura ao lado de fadiga (58%), dor de cabeça (44%) e dificuldade de concentração (27%).
A relação entre infecções virais graves e queda capilar não é nova. Condições como dengue, estresse físico ou emocional intenso, cirurgias grandes e parto também podem desencadear o mesmo mecanismo. O que se vê na Covid-19 é a ativação desse processo em uma escala maior.
A medicina dermatológica reconhece principalmente dois tipos de queda associados à Covid:
- Eflúvio Telógeno: É o tipo mais comum. Caracteriza-se por uma queda difusa e generalizada por toda a cabeça, onde os fios caem em volume acima do normal (podendo passar de 300 fios/dia).
- Alopecia Areata: É menos frequente. Manifesta-se como placas circulares e bem delimitadas de queda completa do cabelo (ou pelos) no couro cabeludo ou em outras áreas do corpo.
Ambas as condições estão ligadas a uma resposta exagerada ou desregulada do sistema imunológico. No eflúvio telógeno pós-Covid, acredita-se que o enorme estresse físico (febre alta, inflamação sistêmica) e emocional da doença “empurra” uma quantidade anormal de folículos pilosos para a fase de repouso (telógena), de onde cairão meses depois.
Já nos casos de alopecia areata pós-Covid, a hipótese é que a infecção viral possa servir como gatilho para indivíduos que já têm uma predisposição genética a desenvolver essa doença autoimune, na qual o próprio sistema de defesa ataca os folículos capilares.
Um ponto crucial e que gera ansiedade nos pacientes é o intervalo de tempo. Diferente de outros sintomas, a queda capilar significativa geralmente começa a aparecer somente 2 a 3 meses após a infecção aguda ou o evento de grande estresse. Esta é uma característica típica do eflúvio telógeno.
A boa notícia é que, na grande maioria dos casos de eflúvio telógeno pós-Covid, os folículos não são destruídos, apenas adormecidos prematuramente. Portanto, a recuperação é possível e esperada, embora possa levar tempo.
Timeline: A Queda de Cabelo Pós-COVID
Entenda o intervalo característico entre a infecção e o início da queda.
ou Estresse Grave
na fase de repouso
Por que essa demora? O ciclo do cabelo tem fases longas. Um evento estressante (como a Covid) interrompe o crescimento (fase anágena) e força os fios para a fase de repouso (telógena). Eles só caem efetivamente 2-3 meses depois, quando um novo fio começa a crescer e os “empurra” para fora.
Como ocorre a queda de cabelo pós-Covid?
Para entender, é preciso conhecer o ciclo natural do cabelo. Diariamente, perdemos de 50 a 150 fios, que são repostos por novos fios em crescimento. Cada folículo piloso (a “raiz” do cabelo) passa por fases: crescimento (anágena), repouso (telógena) e queda (catágena é uma fase curta de transição).
No eflúvio telógeno pós-Covid, o que acontece é uma mudança abrupta nesse ciclo. O estresse físico severo causado pela infecção — incluindo febre alta, inflamação generalizada, alterações metabólicas e psicológicas — atua como um “choque” para o organismo.
Esse choque faz com que uma porcentagem anormalmente alta de folículos (que estavam em fase de crescimento) seja prematuramente direcionada para a fase de repouso (telógena). Após cerca de 2 a 3 meses nessa fase, esses folículos entram em queda sincronizada, resultando na percepção de uma queda abrupta e volumosa.
É importante destacar que, neste tipo de queda, o folículo não é destruído. Ele apenas “adormece” temporariamente. Por isso, na maioria dos casos, a condição é autolimitada, ou seja, tende a cessar sozinha quando o ciclo se reequilibra, e novos fios voltam a crescer.
Diferenças entre os Tipos de Queda Pós-COVID
Compare as características do Eflúvio Telógeno e da Alopecia Areata.

Qual o tratamento para queda de cabelo pós-Covid?
A abordagem terapêutica depende do tipo e da intensidade da queda. O primeiro passo fundamental é uma avaliação dermatológica completa para descartar outras causas e confirmar o diagnóstico. O tratamento pode variar desde simples observação até protocolos mais ativos.
1. Observação e Suporte Nutricional
Em muitos casos de eflúvio telógeno leve a moderado, a condição é autolimitada. O médico pode recomendar um período de observação, associado a:
- Otimização nutricional: A infecção pode esgotar nutrientes essenciais para o crescimento capilar, como Ferro, Zinco, Vitaminas D e B12, e Proteínas. A suplementação deve ser sempre orientada por um profissional, após exames que comprovem a deficiência.
- Controle do estresse e sono: Técnicas de gerenciamento de estresse e higiene do sono são fundamentais para a recuperação global e do ciclo capilar.
2. Tratamentos Tópicos
- Minoxidil Tópico (Loção ou Espuma): É o tratamento tópico mais consolidado. Não impede a queda atual, mas estimula e antecipa a fase de crescimento dos novos fios, encurtando o período de visualização do couro cabeludo. Requer uso contínuo.
- Loções Capilares com Ativos Fortalecedores: Formulações com vitaminas, aminoácidos, peptídeos e ativos como Anagain® ou Redensyl® podem ajudar a criar um ambiente mais saudável para o crescimento.
3. Procedimentos em Consultório
- Microinfusão de Medicamentos na Pele (MMP) / Mesoterapia Capilar: Técnicas minimamente invasivas que utilizam microagulhas para entregar cóquetes de medicamentos, vitaminas, aminoácidos e/ou minoxidil diretamente na derme, onde os folículos estão. Potencializam muito a eficácia dos ativos.
- Fotobiomodulação (Laser de Baixa Potência): Uso de capacetes ou pentes de laser que emitem luz vermelha. A luz é absorvida pelas células do folículo, aumentando a produção de energia celular (ATP) e reduzindo a inflamação, o que estimula o crescimento.
- Intradermoterapia (Aplicações com Agulha): Similar à mesoterapia, mas com agulhas um pouco maiores, para injeção superficial de ativos específicos.
4. Para Casos Específicos (Alopecia Areata)
Se o diagnóstico for alopecia areata desencadeada pela Covid, o tratamento é diferente e pode incluir:
- Corticoides Tópicos Potentes ou Intralesionais: Injetados diretamente nas placas para interromper o ataque autoimune local.
- Imunomoduladores Tópicos: Como a tacrolimus ou o difenciprona.
- Medicações Sistêmicas: Em casos extensos, o dermatologista pode avaliar o uso de medicamentos orais ou injetáveis que modulam a resposta imune (sempre com rigoroso acompanhamento).
Paciência é crucial. Independentemente do tratamento, os primeiros sinais de melhora (diminuição da queda e surgimento de “pelinhos”) podem levar de 3 a 6 meses para se tornarem evidentes. O acompanhamento regular com o dermatologista é a chave para o sucesso.
Guia de Conduta para Queda Pós-COVID
Um caminho lógico desde a percepção do problema até a solução.
Percebo uma queda anormal de cabelo
Acontece meses após ter Covid-19 (ou outro estresse grave).
Busco um Dermatologista
Consulta essencial para diagnóstico correto (Eflúvio Telógeno? Alopecia Areata? Outra causa?). Exame físico e, se necessário, tricoscopia.
Com o diagnóstico, o médico propõe um plano
O tratamento é personalizado com base no tipo, intensidade e suas necessidades.
Para Eflúvio Telógeno
- Observação + Suporte Nutricional
- Minoxidil Tópico
- MMP / Mesoterapia Capilar
- Fotobiomodulação (Laser)
Para Alopecia Areata
- Corticoides Intralesionais/Tópicos
- Imunomoduladores Tópicos
- Possível terapia sistêmica
- Acompanhamento mais frequente
Paciência e Persistência
O crescimento capilar é ludo. Resultados consistentes levam de 6 meses a 1 ano. Siga as orientações médicas, mantenha a fotoproteção e o cuidado gentil com os fios.
É possível prevenir?
Não é possível prever ou prevenir com certeza se a queda de cabelo acontecerá após uma infecção por Covid-19, pois ela está ligada à resposta individual do organismo. No entanto, medidas gerais de saúde podem criar um ambiente mais resistente e potencialmente mitigar a intensidade do quadro.
1. Cuidados Durante e Após a Infecção:
- Hidratação e Nutrição: Manter-se bem hidratado e garantir uma alimentação equilibrada, rica em proteínas, vitaminas e minerais, apoia o sistema imunológico e a saúde dos folículos.
- Repouso Adequado: O sono é crucial para a recuperação e para modular o estresse, um agravante para a queda capilar.
- Controle do Estresse: Práticas como meditação, respiração profunda ou atividade física leve (quando liberada pelo médico) ajudam a gerenciar o estresse pós-doença.
2. Cuidados com os Fios (Preventivos e Durante a Queda):
- Evite Tração e Agressões: Use penteados soltos, evite elásticos muito apertados, chapinhas e químicas agressivas (progressivas, tinturas fortes).
- Lave o Cabelo com Frequência: Lavar ajuda a remover os fios que já estão soltos e prestes a cair, evitando a percepção de “bolos” de cabelo no ralo. Use shampoos suaves.
- Seja Gentil: Ao pentear, comece pelas pontas e use pentes de dentes largos. Evite esfregar o cabelo vigorosamente com a toalha.
3. A Melhor Prevenção:
- A medida mais eficaz continua sendo a prevenção da infecção por Covid-19 em si, seguindo as recomendações de vacinação e cuidados de higiene.
- Ao notar a queda, não entre em pânico nem recorra a tratamentos caseiros milagrosos. Busque orientação dermatológica especializada para um manejo correto e tranquilo do problema.
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Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM
Clínica no Jardim Paulista – Al. Jaú 695 – São Paulo – SP
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