O câncer de pele é a neoplasia mais incidente no Brasil, correspondendo a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados. Entenda os sinais, diagnósticos e opções terapêuticas.

O que é o câncer de pele?
Muitas vezes associamos a palavra “câncer” a tumores profundos, mas na dermatologia a apresentação é visível. O câncer de pele define-se pelo crescimento desordenado e anormal das células que compõem a pele (epiderme e derme).
Qualquer célula cutânea pode sofrer mutações e originar a doença. Devido à alta incidência, a dermatologia moderna foca no diagnóstico precoce, o que eleva drasticamente as chances de cura completa com o mínimo de sequelas estéticas ou funcionais.
Classificação e Tipos Existentes
Didaticamente, dividimos a doença em dois grandes grupos: não melanoma (mais comuns e menos letais) e melanoma (mais raro e agressivo). Entender a diferença é vital para o prognóstico.
1. Câncer de pele não melanoma: Representa a maioria dos casos.
– Carcinoma Basocelular (CBC): É o tipo mais frequente (aprox. 80% dos casos). Tem crescimento lento e raramente se espalha para outros órgãos (metástase), mas pode causar destruição local dos tecidos se não tratado.
– Carcinoma Espinocelular (CEC): Segundo mais comum. Cresce mais rápido que o basal e possui maior potencial de atingir outros órgãos se negligenciado.
2. Melanoma: Origina-se nos melanócitos (células que produzem pigmento). É o tipo mais perigoso devido ao alto risco de metástase (espalhar-se pelo corpo através do sangue ou linfa). A detecção em estágio inicial é determinante para a sobrevivência.
Existem ainda tipos raros, como o Tumor de Merkel, Sarcoma de Kaposi e Linfomas Cutâneos, que exigem abordagens oncológicas específicas.
A Regra ABCDE do Melanoma
Use este guia visual para analisar suas pintas e manchas.
Uma metade da pinta é diferente da outra.
Contorno irregular, mal definido ou dentado.
Várias cores na mesma lesão (preto, marrom, branco, vermelho).
Maior que 6mm (tamanho de uma borracha de lápis).
Mudança rápida de tamanho, forma ou cor.
Fatores de Risco Principais
Embora a radiação ultravioleta (UV) seja o principal vilão, o desenvolvimento da doença é multifatorial. Conheça os perfis de maior risco:
– Histórico de Exposição Solar: O dano solar é cumulativo. Queimaduras solares (com bolhas) na infância e adolescência aumentam significativamente o risco na vida adulta.
– Idade e Gênero: Mais comum após os 50 anos, devido ao acúmulo de radiação. Homens tendem a ser mais afetados que mulheres e, muitas vezes, buscam diagnóstico mais tardiamente.
– Fototipo (Tipo de Pele): Pessoas de pele clara, olhos azuis ou verdes e cabelos ruivos ou loiros possuem menos melanina (proteção natural). Indivíduos com muitas sardas ou que “sempre queimam e nunca bronzeiam” exigem atenção redobrada.
– Histórico Genético: Ter familiares de primeiro grau com melanoma ou já ter tido um câncer de pele anteriormente aumenta a probabilidade de um novo tumor (recidiva ou nova lesão).
– Imunossupressão: Pacientes transplantados ou em tratamento para doenças como leucemia e linfoma possuem o sistema imune menos apto a combater células tumorais iniciais.
Sintomas e Sinais de Alerta
A apresentação clínica varia conforme o subtipo histológico. A auto-observação é crucial.
Carcinoma Basocelular (CBC): Comum em áreas expostas (rosto, orelhas, pescoço).
– Pequeno nódulo de aparência perolada ou brilhante;
– Ferida que sangra facilmente, cicatriza e volta a abrir;
– Mancha avermelhada ou rosada que pode descamar;
– Presença de pequenos vasos sanguíneos visíveis na superfície.
Carcinoma Espinocelular (CEC): Comum em áreas de dano solar crônico, como couro cabeludo de calvos e dorso das mãos.
– Lesão endurecida e áspera, com descamação;
– Aparência de verruga que cresce rapidamente;
– Pode apresentar dor local;
– Forma crostas espessas que podem sangrar.
Melanoma: Pode surgir em pele sã ou sobre uma pinta antiga. Em homens, é comum no tronco; em mulheres, nas pernas.
– Aplique a regra ABCDE (Assimetria, Bordas irregulares, Cores variadas, Diâmetro > 6mm, Evolução);
– Sintomas como coceira, sangramento espontâneo ou inflamação ao redor de uma pinta são sinais de alerta máximo.
Ao notar qualquer lesão que não cicatriza em 15 dias, a avaliação médica especializada é mandatória.
Examine seu rosto, especialmente o nariz, lábios, boca e orelhas (frente e trás). Use espelhos para ver atrás das orelhas.
Use um secador de cabelo ou pente para separar os fios e examinar o couro cabeludo. Peça ajuda se necessário.
Cheque as mãos (palmas e costas), entre os dedos e unhas. Examine pescoço, peito e barriga.
Levante os braços e examine as axilas. Verifique os braços, cotovelos e antebraços.
Examine a frente e trás das pernas, nádegas, região genital, solas dos pés e entre os dedos dos pés.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico preciso combina a experiência clínica com tecnologia. Na consulta, o médico realizará um exame físico completo.
A ferramenta principal é o dermatoscópio, um aparelho que amplia a visão da pele e permite ver estruturas profundas não visíveis a olho nu, aumentando a acurácia diagnóstica sem cortes.
Se houver lesão suspeita, o próximo passo é a biópsia (retirada de um fragmento ou da lesão inteira para análise laboratorial). Tecnologias avançadas também podem ser utilizadas em casos específicos:
– Mapeamento Corporal Total: Indicado para pacientes com muitas pintas (síndrome do nevo displásico), onde fotos digitais de alta resolução monitoram mudanças ao longo do tempo.
– Microscopia Confocal: Uma técnica de imagem não invasiva que permite visualizar as células da pele quase como uma “biópsia virtual”.
Tratamentos e Opções Terapêuticas
A escolha do tratamento depende do tipo de tumor, localização, estadiamento e condições clínicas do paciente. O objetivo é a cura completa com o melhor resultado estético possível.
1. Procedimentos Cirúrgicos:
A cirurgia é o padrão ouro para a maioria dos casos. Pode variar desde uma excisão simples (corte e sutura) até técnicas complexas como a Cirurgia Micrográfica de Mohs. A técnica de Mohs é especialmente indicada para áreas nobres (rosto), pois analisa 100% das margens do tumor durante o procedimento, garantindo a remoção completa do câncer e preservando o máximo de pele saudável.
2. Tratamentos Não Cirúrgicos (para casos superficiais):
– Crioterapia: Congelamento da lesão com nitrogênio líquido.
– Terapia Fotodinâmica: Uso de um creme fotossensibilizante ativado por uma luz especial para destruir células tumorais.
– Imiquimod/5-Fluorouracil: Cremes quimioterápicos tópicos para lesões muito iniciais.
3. Tratamentos para Melanoma Avançado:
Quando o câncer se espalha, a oncologia moderna utiliza a Imunoterapia (que estimula o próprio sistema de defesa do corpo a atacar o tumor) e a Terapia Alvo (medicamentos que atacam mutações genéticas específicas do melanoma), muitas vezes substituindo a quimioterapia tradicional.
Comparativo de Modalidades
Estratégias de Prevenção
A melhor defesa contra o câncer de pele é a fotoproteção consciente. A prevenção deve ser um hábito diário, não apenas em dias de praia.
– Filtro Solar: Use FPS 30 ou superior diariamente. Aplique 30 minutos antes de sair e reaplique a cada 2 horas ou após suar/nadar. Lembre-se que a luz visível e o infravermelho também causam danos.
– Barreira Física: Em horários de pico (10h às 16h), prefira a sombra e utilize chapéus de aba larga, óculos com proteção UV e roupas com tecido de proteção UV (FPU 50+).
– Vigilância: Examine sua pele mensalmente. Conhecer suas pintas ajuda a identificar mudanças sutis precocemente. Se possui histórico familiar ou pele muito clara, mantenha visitas anuais ou semestrais ao dermatologista.