O que você queria saber sobre esfoliação

A esfoliação é uma etapa fundamental nos cuidados com a pele, mas seu sucesso depende da escolha do produto certo e da técnica adequada para o seu tipo de pele. Quando feita corretamente, ela remove as células mortas da superfície (a camada córnea da epiderme), revelando uma pele mais lisa, iluminada e com textura uniforme.

Os benefícios vão além da estética imediata: ao desobstruir os poros, a esfoliação regular ajuda a prevenir a formação de cravos e espinhas e permite que hidratantes e outros tratamentos penetrem com mais eficácia. No entanto, o excesso ou o uso de produtos inadequados pode danificar a barreira de proteção da pele, causando irritação, ressecamento e sensibilidade.

Esfoliação Física vs. Química: Entenda as Diferenças

A principal divisão entre os esfoliantes está no seu mecanismo de ação. Escolher o tipo errado para a sua pele pode ser a diferença entre um resultado positivo e um problema.

Esfoliantes Físicos (ou Mecânicos):

• Como funcionam: Utilizam minúsculas partículas abrasivas (grânulos) que, ao serem massageadas na pele, removem fisicamente as células mortas por fricção.
• Exemplos: Esfoliantes com grãos de açúcar, sal, sílica, jojoba, ou microesferas de polietileno (cujo uso está sendo reduzido por questões ambientais).
• Para quem: Peles normais a oleosas e resistentes. Exige que a massagem seja feita com muito pouca pressão para não causar microlesões.
• Evitar se: Tiver pele sensível, rosácea, acne inflamada ativa (com muitas espinhas vermelhas) ou couperose, pois a fricção pode piorar a irritação.

Esfoliantes Químicos:

• Como funcionam: Não usam grânulos. Em vez disso, contêm ácidos ou enzimas que dissolvem o “cimento” que prende as células mortas à superfície, promovendo uma descamação mais uniforme e menos agressiva.
• Principais tipos:
  • AHA (Ácido Glicólico, Lático, Mandélico): Hidrossolúveis, atuam na superfície. Ótimos para clarear manchas, suavizar linhas finas e renovar a textura.
  • BHA (Ácido Salicílico): Lipossolúvel, penetra nos poros oleosos. É o mais indicado para pele acneica e com cravos, pois desobstrui profundamente.
  • PHA (Ácido Gluconolactona, Lactobiónico): Moléculas maiores, mais suaves e hidratantes. Ideais para peles sensíveis ou iniciantes em esfoliação química.
  • Enzimas (Bromelina do abacaxi, Papaína do mamão): Agem quebrando as proteínas das células mortas. São opções muito gentis.
• Atenção crucial: Esfoliantes químicos, especialmente os de ácido, devem ser usados sob orientação de um dermatologista. A concentração, o pH e a frequência de uso são determinantes para a segurança e eficácia. O uso inadequado pode causar queimaduras químicas, hiperpigmentação e danos severos à barreira cutânea.

Frequência Ideal: Menos é Mais

O maior erro na esfoliação é o excesso. A pele precisa de tempo para se recuperar e reconstruir sua barreira de proteção. Esfoliar demais leva a um efeito rebote: a pele pode ficar mais oleosa, mais sensível e mais propensa a irritações.

Como regra geral para iniciantes:

• Pele Normal a Mista: 1 a 2 vezes por semana.
• Pele Oleosa e Resistente: Até 3 vezes por semana (para esfoliantes químicos suaves ou físicos gentis).
• Pele Seca ou Sensível: 1 vez por semana ou a cada 10-15 dias, apenas com produtos muito suaves.
• Pele com Rosácea ou Dermatite Ativa: Consulte um dermatologista antes de esfoliar. Pode ser necessário evitar completamente ou usar apenas produtos específicos prescritos.

Sinais de que você está exagerando: Pele constantemente vermelha, com sensação de ardência ou “repuxamento” após lavar, mais sensível ao toque, descamando de forma anormal ou com pequenas bolinhas (pústulas). Se notar algum desses sinais, interrompa a esfoliação por pelo menos uma semana e foque em hidratar e reparar a barreira cutânea.

Guia de Aplicação: Rosto e Corpo

A técnica varia conforme a área e a resistência da pele naquela região.

No Rosto:

• Siga o passo a passo do infográfico acima.
• Na zona T (testa, nariz, queixo), onde a pele é geralmente mais oleosa e espessa, você pode aplicar uma pressão um pouco maior (mas ainda suave).
• Nas bochechas e ao redor dos lábios, onde a pele é mais fina e sensível, a pressão deve ser mínima.
• NUNCA esfolie a pálpebra móvel ou a área imediatamente ao redor dos olhos.

No Corpo:

• O processo é similar, mas você pode usar esfoliantes com grãos um pouco maiores.
• Aplique na pele úmida durante o banho.
• Foque em áreas de dobra e atrito, que tendem a acumular células mortas: cotovelos, joelhos, calcanhares e canelas. Nessas áreas, a pressão pode ser moderada.
• Para o colo, peito e costas (área propensa a acne corporal), use movimentos suaves. Evite esfregar lesões de acne inflamadas.
• Após o banho, hidrate bem o corpo, especialmente as áreas esfoliadas.

Esfoliantes Caseiros: Cuidado e Alternativas Mais Seguras

Receitas caseiras, como a mistura de açúcar mascavo com mel, são populares, mas carregam riscos que devem ser considerados:

• Grânulos Irregulares: Partículas de açúcar ou sal têm bordas irregulares e pontiagudas, que podem causar microlesões invisíveis na superfície da pele, prejudicando sua barreira de proteção e facilitando a entrada de bactérias.
• Risco de Contaminação: Ingredientes naturais não possuem conservantes adequados, podendo desenvolver bactérias e fungos rapidamente, especialmente se armazenados.
• Alergias e Irritações: Ingredientes como canela, frutas cítricas ou óleos essenciais são altamente irritantes para a pele, podendo causar dermatite de contato.
• Resultados Inconsistentes: É impossível controlar o tamanho uniforme dos grãos, o pH da mistura ou a concentração de ativos, tornando os resultados imprevisíveis.

Se ainda assim quiser experimentar, siga estas precauções rigorosas:

1. Escolha ingredientes mais seguros: Prefira açúcar cristal refinado (grãos mais arredondados) ao invés de açúcar mascavo. Use um óleo carreador suave, como óleo de coco fraccionado ou de amêndoas doce, em vez de mel puro (que é pegajoso e pode abafar a pele).
2. Faça uma quantidade mínima para uso imediato. Nunca armazene a sobra.
3. Faça um teste de sensibilidade no antebraço 24 horas antes de usar no rosto.
4. Aplique com a pressão mais leve possível e por no máximo 15 segundos.
5. Nunca use em pele sensível, com acne inflamada, cortes ou após depilação.

Para a maioria das pessoas, os esfoliantes industrializados, desenvolvidos com pesquisa dermatológica, oferecem muito mais segurança, eficácia previsível e resultados superiores com menor risco de danos. Investir em um bom produto é investir na saúde da sua pele a longo prazo.

Dra. Juliana Toma

Médica Dermatologista - CRM-SP 156490 / RQE 65521 | Médica formada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Título de Especialista em Dermatologia. Especialização em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês. Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA. Ex-Conselheira do Conselho Regional de Medicina (CREMESP). Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia do CREMESP (2018-2023).